quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Tecnologia libera professor para o que importa

Da Mary Jo Madda, do EdSurge
O ensino híbrido é um modelo tão novo que seus resultados ainda não foram completamente provados. Nos Estados Unidos, porém, uma escola charter de Los Angeles (pública de administração privada) chamou a atenção por ter conseguido os melhores resultados da região nas provas do governo. A Kipp Empower Academy usa o modelo desde que foi inaugurada, em 2010.
O resultado positivo chega num momento em que todo o distrito escolar de Los Angeles discute a adoção de tecnologia nas salas de aula. Recentemente, a cidade anunciou um esforço de US$ 1 bilhão para prover tablets para todos os alunos das escolas públicas da região.
A Kipp (Knowlegde is Power Program) é uma das maiores redes de escola charter dos EUA, que administra mais de 140 escolas públicas e 50 mil alunos espalhados pelo país. Normalmente, as escolas servem a regiões de vulnerabilidade social. Em entrevista ao EdSurge, o diretor da Kipp Empower Academy, Mike Kerr, falou o que ele pensa sobre o potencial da edtech e como outras escolas podem aprender tanto por seus acertos quanto erros.
crédito Vesna Cvorovic / Fotolia.comTecnologia libera professor para o que realmente importa, diz diretor da Kipp
  A Kipp conseguiu recentemente atingir 991 pontos no Academic Performance Index [prova oficial regional], o que é muito impressionante. Como é o modelo de ensino híbrido que a Kipp Empower adotou e quais foram as principais mudanças que o modelo possibilitou nos últimos anos?  
A Kipp Empower Academy adotou o modelo de blended learning [ou ensino híbrido] porque o estado da Califórnia cortou parte do financiamento para as charter schools novas [em 2010]. Perdemos cerca de US$ 100 mil para um universo de 100 estudantes. Decidimos adotar o ensino híbrido porque sentimos que isso nos permitiria preservar a essência do nosso modelo, que é o aprendizado em grupos pequenos. Centrar instrução em torno de grupos pequenos significa garantir que professores possam personalizar o aprendizado. Ter 50 laptops na sala de aula permitiu que nossos professores pudessem trabalhar com grupos menores, apesar de termos aumentado drasticamente nossas salas, de 20 para 28 alunos. [Com os computadores] Você pode dividir uma turma pela metade, tendo 50% dos alunos trabalhando em um grupo pequeno com o professor de arte e ter os outros 50% no computador esboçando um desenho.
Como você fez para garantir o apoio dos professores ao programa?
Um dos maiores desafios que os professores enfrentam é diferenciar suas aulas para entender a necessidade de cada criança. O que fizemos foi mostrar como a tecnologia pode ajudá-los a individualizar seu ensino, a trabalhar com as crianças em grupos pequenos e aprender a trabalhar com elas de uma forma mais personalizada. Os professores passam a ter a chance de trabalhar com seus alunos de uma forma mais intimista do que eles tinham antes. Eles conseguem conhecer seus alunos mais profundamente.
Usar tecnologia de forma intencional para aprofundar o aprendizado dos alunos não quer dizer que estejamos prejudicando as crianças. Não quer dizer que estamos acabando com a profissão da docência. Não significa que estamos desvalorizando a educação
E como você acha que essas mudanças contribuíram para a melhora nos resultados nas provas regionais?
Sabemos que ter uma cultura forte na escola é importante – uma escola orientada positivamente a obter bons resultados. Nossos alunos fazem educação física todos os dias. Eles têm artes todos os dias. Estão recebendo uma educação muito equilibrada. Uma prova do governo é só um ponto de partida, não um ponto final para nós. Queremos vencer as estatísticas e preparar nossas crianças para que estejam prontas para as diferentes profissões que eles terão no mundo competitivo. Não quero que os professores gastem seu dia naquilo que chamamos de “low-hanging fruit” [frutas que estão baixas no pé] – coisas que são muito fáceis de ensinar ou de entender, competências muito básicas. Nossos professores estão aqui para ensinar as crianças. O papel da tecnologia nisso, mais uma vez, é liberar nossos professores a trabalhar em grupos pequenos e no aprendizado mais profundo dos alunos.
Você pode nos dar algumas dicas para implementação do modelo?
Existem muitas coisas que escolas precisam desenvolver antes de começar a implementar [o ensino híbrido]. Tenho visto escolas que dizem, ok, teremos laptops em salas de aula ou alguma outra iniciativa, mas não têm um plano claro sobre como isso fará parte de uma visão estratégica voltada a melhorar a educação para suas escolas. Então, a lição que fica é: se você conseguir ser intencional sobre o uso da tecnologia, ela será útil para muitas coisas diferentes.
Primeiro [em termos de estratégias], para os professores que são pouco experientes ou exitantes com tecnologia, precisamos deixar claro que qualquer educador pode se utilizar dela. A gestão da sala de aula é uma área importante que frequentemente fica esquecida, mas é fundamental para o aprendizado dos alunos. Em segundo lugar, é muito legal podermos ter nossos professores trabalhando com alunos em grupos pequenos. Se os professores entenderem a importância da gestão da sala de aula e usarem um planejamento estratégico para grupos, então podem usar a tecnologia de forma que aprofunde o aprendizado.
Há planos ou programas futuros que a Kipp pretende adotar?
Programação é uma área que vemos como uma necessidadde para nossas crianças e que devemos investir. Estamos começando um projeto de programação com alunos de terceira série porque acreditamos que aprender a programar vai prepará-los para as profissões de amanhã. Os sistemas de programação que estamos usando se chamam TynkerScratch.
Hoje a Empower é uma escola do enorme sistema Kipp. Como você acha que os bons resultados nas provas pode influenciar todo o sistema? Você tem visto modelos de ensino híbrido em outras escolas?
O conceito de ensino híbrido vai se espalhar pela Kipp. Já temos uma escola híbrida em Chicago, a Kipp Create, e outra em Nova York, a KippWashington Heights. Muitos colegas participam dos workshops que promovemos para ver o que podem usar em suas escolas. Muitas coisas boas estão acontecendo em todo por iniciativa de pesquisadores e de escolas públicas. Estão se dedicando a estudar o que será o melhor para as crianças e colocando o interesse delas como o ponto principal. A [escola pública] Idea faz muito desse trabalho no Texas, a FirstLine em Nova Orleans, a Aspire na Califórnia, e a Achievement First no Nordeste.
Mas não é toda escola que é assim. Algumas precisam ligar com autoridades locais e representantes do professores que não se sentem confortáveis com o modelo. No fim de tudo, quais são seus argumentos em favor do ensino híbrido?
Muitas pessoas acham que, porque nossos alunos estão usando laptops ao longo do dia, eles estão de braços cruzados. Acham que estamos prejudicando nossas crianças. Mas olhe para o jardim de infância. Eles ficam apenas 50 minutos de seu dia, no total, com os laptops. No máximo, usamos tecnologia em apenas 15% do dia deles. Usar tecnologia de forma intencional para aprofundar o aprendizado dos alunos não quer dizer que estejamos prejudicando as crianças. Não quer dizer que estamos acabando com a profissão da docência. Não significa que estamos desvalorizando a educação. Valorizamos a curiosidade natural dos estudantes. Agora eles conseguem se engajar com o conteúdo mais profundamente de formas que eles não estariam fazendo.
Se a tecnologia pode ajudar a trabalhar com a educação e a nivelar uma sociedade onde as escolas são desiguais, então estou feliz em saber que a Empower está fazendo parte disso.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Tendências para as universidades na AL

Laboratórios remotos, internet das coisas e aprendizado mecânico. Se hoje esse tipo de ferramenta parece ainda algo muito distante das salas de aula, um grupo de especialistas garante: num prazo de quatro a cinco anos elas serão amplamente utilizadas nas universidades da América Latina. O mais novo relatório do NMC (New Media Consortium), dedicado a estudar o ensino superior latino-americano e publicado neste mês, prevê as 12 tecnologias emergentes que serão comuns no ensino superior em três prazos distintos – menos que um ano, de dois a três anos, e de quatro a cinco anos. Além disso, aponta também os 10 grandes tendência na educação e os desafios que esses movimentos ainda tendem a enfrentar (veja infográfico abaixo e a íntegra em inglês e em espanhol).
O NMC produz relatórios sobre tendências na educação específicas quase que mensalmente. Em cada estudo, o grupo reúne especialistas em um grande tema, que passam meses coletando pesquisas, artigos científicos, notícias, publicações em blogs e projetos para tentar antever mudanças nos processos educativos. No caso do relatório das universidades latino-americanas, 44 especialistas, dentre os quais três brasileiros, trabalharam na pesquisa entre os meses de maio e junho.
crédito mjaud / Fotolia.comRelatório aponta tendências para educação superior na América Latina
  “Esse relatório destaca as principais tecnologias emergentes que educadores, gestores e tomadores de decisão precisam levar em consideração como um caminho para enriquecer o ensino e o aprendizado na educação superior da América Latina”, diz José María Antón, um dos principais pesquisadores do projeto, que foi feito em parceria com o Virtual Educa, instituição latino-americana voltada a estimular práticas inovadoras na educação, e o Csev (Centro Superior para la Enseñanza Virtual), uma organização que promove o ensino superior on-line em países ibéricos.
No que diz respeito às tecnologias, em um intervalo de no máximo um ano, os especialistas esperam ver abundantemente nas universidades os ambientes colaborativos, aprendizado on-line, conteúdo aberto e o uso de mídias sociais. Entre dois e três anos, a expectativa é para realidade aumentada, ferramentas analíticas, aprendizado móvel e o personalizado. Para quatro ou cinco anos, apontaram as impressoras 3D, os laboratórios virtuais e remotos e a inteligência das coisas.
A habilidade que a tecnologia tem de possibilitar uma interação mais autêntica entre máquinas e indivíduos representa uma grande promessa para a educação
Comparando-se com as perspectivas que o NMC já havia traçado para universidades no mundo e o estudo apresentado no ano passado que analisava os países ibéricos (que também incluiam os portugueses e espanhóis), há convergência na importância dada à aprendizagem móvel, que aparece forte e urgente nos três estudos. Os Moocs também marcam presença nos documentos e o site brasileiro Veduca é uma das experiências citadas como prova de que o movimento é crescente na região. “Agora mais do que antes, existe uma ênfase clara e crescente no ensino on-line e em um acesso mais pervasivo em oportunidades por toda a região”, afirmam os autores.
Novidade do relatório da América Latina, porém, é a aprendizagem mecânica, chamada de “learning machine” em inglês. O termo designa a capacidade que computadores têm de agir e reagir sem terem sido programados especificamente para tal. Na aprendizagem mecânica, os desenvolvedores conseguem fazer com que sistemas não apenas reconheçam, recuperem e interpretem informações, mas também aprendam com elas. “Pela primeira vez em um relatório do NMC aparece a aprendizagem mecânica. A habilidade que a tecnologia tem de possibilitar uma interação mais autêntica entre máquinas e indivíduos representa uma grande promessa para a educação”, também registra o relatório.
Todas essas tecnologias, afirmam os pesquisadores, são possibilitadas devido a grandes tendências que se observam no campo da educação e fora dele. Confira, a seguir, as 12 tecnologias e as 10 tendências previstas pelos especialistas.
crédito Regiany Silva / Porvir12 tecnologias e 10 tendências para a universidade na América Latina
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